sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Umbelina


Vem cá fí, a vó feiz bolo
...era assim que a velhinha fazia , quando queria me agradar.

O cheiro de bolo de fubá tomava conta de toda sala, impregnava na colcha beje do sofa e se misturava com o cheiro de naftalina que saia do armarinho da dispensa.
O mesmo armarinho onde eram escondidas as garrafinhas de 290ml de coca-cola, as bolachas recheadas, os biscoitos de polvilho e outro monte de guloseimas que só se encontram na casa da vovó. Esconderijo que eu conhecia muito bem quando criança.

Umbelina Azevedo Tauil era o nome daquela senhora, uma mulher forte, de sorriso contagiante, a pele marcada pela vida, pelo tempo. Tinha uma energia vital que transbordava pelos ouvidos...ou melhor, que transbordava pela boca, pois, falava mais que um papagaio, gostava de conversar, e como gostava. Se ia na feira era uma alegria que dava gosto. Pastél, uva, tremoço, tudo a tira gosto.

Morava no interior de São Paulo, sozinha... em um sobradinho bem simples, pra falar a verdade, caindo aos pedaços.

Espirita, médium e benzedeira das brábas, recebia sempre as pessoas na sua casa, sempre tinha alguém que era amigo de fulalano ou de ciclano.

Era a melhor cozinheira do mundo, especialmente cozinha árabe, fazia a melhor esfiha que já comi na vida, as vezes inventava de cozinhar de madrugada ouvindo música ou cantarolando uma melodia qualquer. Pilhas e mais pilhas de louça decoravam aquela cozinha quente e esfumaçada.

Casou-se com Pedro, músico da orquestra sinfônica, homem alto, magro, de semblante forte, sobrancelhas grossas e olhos negros. Juntos tiveram 13 filhos, o que é um numero absurdo em relação aos dias de hoje, mas se pensarmos bem, naquela epoca não tinha televisão e pra piorar minha vó era surda.

Meu avô que não era bobo nem nada, chegava para ela toda noite e como quem não quer nada, perguntava.

- e ai mulher, vamos dormir ou o que?
e ela coitada, surda, respondia num tom meio sapéca..

- oi, o que?






Nenhum comentário:

Postar um comentário